sábado, 31 de maio de 2008

...e tudo começou assim...

Já passava da meia noite de sábado, num mês qualquer do ano de 1969, estávamos sentados nos tanques de lavar roupa, que ficavam bem do lado da única delegacia que conheci naquela época, bem dentro da favela do parque proletário da gávea, área pertencente a PUC - Pontifícia Universidade Católica, nós éramos invasores, estávamos ali ,eu, meu primo Paulinho, Isaac, meu amigo e seu irmão, Artur, estávamos planejando nossa fuga para praia do Leblon no dia seguinte. No domingo quase sempre ensolarado. Naquela madrugada tive um sonho que mudaria toda a minha trajetória de adolescente. Sonhei que seria acordado por minha tia Clotilde. Sonhei que ela me arranjaria um emprego e ñ é que o sonho se concretizou! Ao acordar e me preparar para encontrar os outros, eis que chega a tia Tide com a novidade: Raimundo, voce amanhã irá trabalhar comigo, lá na confecção! Ali acabaram meus dias de vagabundo na favela, e começaria essa saga que vou lhes contar, agora.
Na volta da praia do Leblon, já com os trajes secos, para que minha avó sinhá, não me pegasse de palmadas, me juntei aos primos: Roberto e Marcelo, para o almoço de domingo; reunião que meu avô, também Raimundo, fazia questão. Tínhamos uma TV em preto e branco (RQ COLORADO), que minha Tia Maria José, havia ganhado de sua patroa. Era com essa TV que nós conhecíamos o resto do mundo, já que quando morávamos na favela da Praia do Pinto, somente podíamos ouvir as novelas da sinhá, pelo rádio. Aprendemos a gostar de "JERONIMO, HERÓI DO SERTÃO". Nossa tranqüilidade só terminava quando tínhamos visita, aí sim, ficamos chateados. Minhas avós não nos deixavam ver TV enquanto a visita não fosse embora. Foi aí que aprendemos a tal "MANDINGA" de colocar a vassoura atrás da porta, de cabeça para baixo, para apressar a ida embora das visitas. Se chegasse uma visita, não podíamos nem atravessar a sala, ficamos trancados no único quarto que tínhamos, olhando pelas frestas da porta e rezando muito. Comecei a trabalhar com minha tia, deixei pra trás as brincadeiras de moleque, minhas subidas ao morro da Clínica São Vicente, na Rua João Borges, para pegar jaca e olho de boi, pra vender; deixei de subir nos pés de jambo, na Rua Marquês de São Vicente; deixei de carregar as bolsas da "MADAME", na feira da rua dos Oitis, na Gávea. Adorava subir a Marquês de São de Vicente, sentido ROCINHA, pra. De lá, descer aquelas curvas maravilhosas com o meu carrinho de "ROLIMÃ". Deixei de correr pelos lindos bosques do Parque da Cidade, onde me sentia o Rei das Selvas, sem compromisso, sem contas para pagar, sem saber se a manhã viria ou não. Por falar naquelas matas, certa vez, acordei com uma dor de dentes danada e, meu avô Raimundo, me levou pelas mãos até uma daquelas ramagens e arrancou uma delas e me deu para morder, o que fiz muito contra gosto, mas o fiz; pra minha surpresa, minha boca ficou dormente e a dor cesou como por um encanto. Coisas de avós. Pura magia. Demolido nos anos 70, o Parque Proletário da Gávea ocupava área hoje pertencente à PUC. Casa de dois quartos com vista para o verde, vizinhança silenciosa, localização privilegiada e acesso garantido à escola, creche e cursos profissionalizantes. A oferta parecia irrecusável. E realmente era. Construído em 1942 em plena Rua Marquês de São Vicente, na época cercada por chácaras. "Quando cheguei no Parque era ainda menino. Cresci lá, e minhas lembranças são as melhores possíveis. Não era bem uma favela, era muito bom até! As casas confortáveis, o pessoal unido.Durante o plano de remoções de favelas do Governo Carlos Lacerda, no final dos anos 60.Por trás desse clima de condomínio rico estava um projeto polêmico do governo federal e da prefeitura do Rio, que inaugurou a era de intervenções públicas nas comunidades cariocas. O Parque Proletário da Gávea foi o primeiro de uma série de três inaugurados durante os anos de 1942 e 1943 para abrigar provisoriamente moradores de favelas que seriam urbanizadas.
Aí veio a Remoção dos moradores do Parque Proletário da Gávea em 1970: fim do sonho de 'condomínio rico’. No estudo Parques proletários provisórios: Uma intervenção na prática, o arquiteto Mauro Kleiman deu sua versão para o fracasso do plano: “Os parques eram uma solução setorial para um problema geral. Assim como o programa de remoções dos anos 60 e 70, o projeto era acabar com o ‘quisto’ urbano representado pela favela, na sua estrutura física, não com sua estrutura econômica”.

No final dos anos 60, a prefeitura do Rio radicaliza na tentativa de resolver o problema varrendo do mapa – e principalmente da Zona Sul carioca - algumas das maiores favelas da cidade, entre elas a Praia do Pinto, a Catacumba e o Pasmado.

As primeiras notícias de uma possível remoção dos moradores dos parques proletários para a Zona Oeste começaram a circular já no final dos anos 50. “Ficava aquela dúvida se a gente seria mesmo removido. Quando eles construíram o Minhocão (prédio popular de 6 andares e 743 apartamentos, atualmente cortado pela Auto Estrada Lagoa-Barra). Deram então cinco opções para gente escolher: Vila Aliança, Vila Kennedy, Cordovil, Cidade de Deus, Padre Miguel e Cascadura. Ficamos tristes, mas não tinha como resistir”.O sonho do condomínio “novinho em folha” mudou então para a Zona Oeste. E seus moradores novamente descobriram que os conjuntos habitacionais – assim como os parques proletários - não eram exatamente a maravilha que o governo prometia. Eu fui parar em Padre Miguel, juntamente com minha tia Tide; nessas alturas, já casada com meu tio João Pereira. Minha tia Maria, juntamente com meus avôs, trocou essa opção por um terreno em Duque de Caxias.Minhas tias: Josefa, Dalvina e Leozina, optaram pela linda Cidade de Deus. Quando minha avó era viva, ela sempre nos contava uma história sobre o incêndio, que ela jurava que foi criminoso, da nossa querida favela da praia do pinto. Ela nos contava que quanto mais os bombeiros jogavam água no fogo, mais o fogo crescia. Passamos dois dias dormindo na praia do Leblon. Para mim era tudo maravilhoso, era tudo que eu e meus primos, queríamos: praia todo dia, toda hora, sem sair da beirada da água. Fomos levados para o campo de São Cristovão, pra minha sorte, minha mãe, dona Nilda, me levou para Nova Brasília, onde ela morava. Não demorei muito por lá. Certo dia, para minha salvação, apareceu lá no morro, minha tia Tide e fui embora com ela, e nunca mais pus meus pés naquele complexo do alemão. Mesmo morando em Padre Miguel, freqüentava periodicamente a cidade de deus, e lá, conquistei muitos amigos: Bira, Badola,Birrita,Carlos Português, Ulisses, Elmo, Jorge Pescoço, Paulo Duro, Mamute e tantos outros que me fogem a memória. Mas a pessoa que eu mais gostava de visitar, era minha prima ANA MARIA, essa sim, foi minha primeira paixão de verdade. Tudo começou na sua festa de 15 anos de idade, ela toda vestida de rosa; linda, saltitante e envolvente. Passou à noite toda me evitando; beijou mais de 10 bocas, todos os paqueras tiveram sua vez e, eu, fiquei em casa, fazendo companhia a minha tia que, muito tempo depois, veio à ser minha sogra, dona Josefa. Lá pras tantas da noite, após salpicar a favela com seu cheiro maravilhoso e de sua irradiante alegria, chegou minha vez; tomei coragem e a pedi em namoro, o que ela prontamente aceitou. Naquela época se correspondia por carta. Eu não tinha caligrafia. Ela guardava todas as minhas cartas, para que nós as lêssemos quando a visitasse nos finais de semana. Era muito engraçado. Faltavam palavras e sobravam idéias. Ela gostava de ir ao cinema, meus amigos ainda não trabalhavam. Eu era Office boy e ganhava uma "merreca". Por falar nisso, uma vez ela me convidou pra sair, eu não tinha um tostão, foi quando uma senhora do bar, na rua da quitanda, centro do Rio de Janeiro, me ensinou o seguinte: Raimundinho, vc leva dez garrafas de café, pela metade, e economiza o dinheiro da outra metade. (Que Deus me Perdoe) eu era apenas um garoto apaixonado. Foi assim que arranjei dinheiro para levar minha paixão ao cinema. Mas nem tudo eram flores na vida dos adolescentes daquela época. Outra maneira que encontrei para arranjar dinheiro era engraxando sapatos. Meu avô, Sr. Raimundo Fernandes, fez pra mim uma caixinha de engraxate, e foi com ela que consegui conhecer o centro do Rio de Janeiro. Eu, e meus amigos, fugíamos da gávea de ônibus, pegávamos o chifruto, isso mesmo, um ônibus elétrico da CTC, que captava sua energia dos fios elétricos. Minha tia Tide, me levou para morar com ela em Padre Miguel, nessa oportunidade conheci a Quadra da Mocidade Independente de Padre Miguel “foi paixão a primeira vista". Em uma dessas andanças na favela da vila vintém, conheci outros grandes amigos, que infelizmente já nos deixaram. Bem jovem aprendi a gostar de música. Depois de uma peladinha, somente a música me acalmava, qualquer música, mesmo sendo ela da língua inglesa. Um amigo, JULINHO, técnico de som, me apresentou um aparelho que ele havia construído com peças compradas separadamente, achei aquilo uma loucura. Ali começaria nossa amizade. Muita música de Billy Paul, Marvie Gaye, Diana Ross, Isaac Heys, e outros. Depois de deixar meu primeiro emprego, com a minha tia Tide, um grande amigo, um campista do bom, Reginaldo, me arranjou aquele emprego de Office boy, que comentei antes. Ele também veio do parque proletário da gávea para Padre Miguel, e trouxe com ele seu primo, Valdeci, que fizemos uma das maiores duplas das noites de segundas-feiras daquele bairro. E o seguinte: Juntamo-nos e compramos uma vitrola SONATA; aquela que guardava o toca disco dentro da própria caixa, era show. Naqueles tempos, ainda tinha alguns apartamentos vazios, os seus proprietários ainda não haviam se decidido ir morar lá, achavam muito longe. Todos acostumados com a zona sul: praias, cinemas, escolas, mulheres bonitas, etc. Comprávamos cal e pintávamos um apartamento que ficasse na parte de baixo, e à noite fazíamos nosso baile mela cuecas, sempre as segundas-feiras. Lá conheci a mulher que viria ser a mãe do meu primeiro filho, Alexandre Fernandes, Sueli Galdino. Ela tinha namorado, mas estava brigada com ele, aproveitando essa oportunidade a chamei pra dançar. Durante as longas músicas ritmadas de Isaac Heys, quase sempre com duração de mais de 4 minutos, eu disse em seu ouvido que gostaria muitíssimo de namorá-la, e, para minha surpresa, ela aceitou. Convivemos alguns meses juntos e dela, nasceu meu primogênito. Nossos signos começaram a brigar. Um dia saí para sambar na mocidade, quando voltei, de madrugada, ela disse que eu não entraria em casa. Nunca mais entrei.
Já era o ano de 1975, ano que venero. Meus amigos da cidade de Deus me convidaram a participar de uma caravana, com destino ao exército brasileiro, pois ali no campinho, ficaríamos somente 11 meses e logo, estaríamos de novo freqüentando as praias da barra e recreio dos bandeirantes. Mas minha avó sinhá não comungava com essa idéia. Ela me disse que eu deviria procurar um quartel que me garantisse uma carreira, pois eu não havia estudado nada. Tinha tão somente o primeiro grau. Sábias palavras. A segui piamente.
Lembrei-me de um cara que me podia ajudar nessa façanha, seu apelido era Pelé, nunca soube direito seu nome. Ele trabalhava no balcão de um bar, na av. Churchill, altura do número 157. Quando era mais moleque, eu engraxava sapatos naquelas bandas e o conheci e fiquei camarada dele, por sua gentileza e presteza. E o seguinte: Todo dia, às 18 horas, os bares recolhiam as sobras de salgadinhos e distribuía entre os funcionários e o Pelé pegava a sua parte e nos dava. Passei para ele minhas intenções, o que ele prontamente me orientou. Ele mandou-me procurar um oficial da aeronáutica, lá no terceiro comando aéreo regional, mas o oficial me disse que não poderia me ajudar no momento, porque a senha para entrar na aeronáutica, naquele período, havia terminado, mas ele me indicaria outra pessoa, também oficial da aeronáutica, mas dessa vez, na BASC, base aérea de santa cruz. Saí daquela reunião com a certeza que conseguiria entrar pra FAB. Fui a pé, até a gare Dom Pedro II, e peguei o trem número 42, central x santa cruz, direto. Chequei na base às 16 horas, na hora que todos já estavam saindo pra casa. Perguntei a um sargento, já falecido, Libório; como faria para servir a FAB. Ele me contou que eu deveria voltar no outro dia, pela manhã, e que levasse comigo somente: cópia da certidão de nascimento, uma foto 3 x 4, e um comprovante de residência. Voltei pra casa e relatei tudo pra minha avó, ela na sua santa ignorância, e incontida teimosia, fruto da idade, insistiu para que eu levasse comigo, além dos documentos os quais me referi, uma escova de dente; cuecas de copinho, uma calça jeans, camisetas e meu bom e velho CONGA BAMBA.

Cheguei à estação de Padre Miguel, às 06h00 hs e ás 07h00 hs, já estava numa fila enorme. Todos jovens como eu, na esperança de um mundo melhor. Eu desde pequeno sonhava em usar uma farda; aquela era a minha chance. Der repente, todos estavam olhando pra mim e rindo.Eu não sabia o que estava acontecendo. Na minha frente, um militar de óculos escuros, do tipo ray-ban, aqueles que a gente só via em filmes que aparecia militares fardados, pensei: daqui a pouco também estarei usando um óculos desses. Quando voltei meus pensamentos para aonde eu estava, os garotos ainda se encontravam rindo, aí perguntei ao menino da frente: e aí, de que esse caras estão rindo? De você. Por quê? Poxa, só vc trouxe bolsa, ninguém mais. Eu olhei para o chão e para os garotos e só pensava na minha avó. Além das coisas desnecessárias que levei, minha bolsa era uma sacola de mercado. Do antigo supermercado casas da banha, que trazia uma figura de um porquinho do lado de fora; não faltaram gozações pra cima de mim. Quando todos os garotos já haviam terminados seus exames, e se dirigiam pra casa, fui surpreendido com um chamado de meu nome; era o sargento Libório, que me disse a seguinte frase: O guri, já que você trouxe essa mochila, por que não fica conosco. Eu lhe perguntei o que aquilo significava, e ele me disse que, seu eu quisesse, começaria naquele dia mesmo, no que respondi que aceitaria. Naquele mesmo dia recebi roupas de dormi, farda e calçados, e experimentei, pela primeira vez, uma comidinha de quartel. Fiquei muito feliz com a escolha. O que mais me entristeceu,foi saber que não iria para casa tão cedo. Passaria toda semana no quartel, o que eles chamavam de: percevejo. Na primeira sexta-feira de folga, fui direto para casa, me encontrar com minha avó, e lhe contar as novidades. Avisei a todos que minha vida havia mudado. Que não me esperassem para o jantar. O recrutamento duraria em média seis meses. Foi nessa primeira visita aos parentes, que descobri que seria pai. A Suely, mãe do meu primogênito, alexandre Fernandes, estava grávida. Eu prometi a sua mãe, dona Teresa, que assim que passasse a pronto, voltaria para casa e ajudaria a Suely a cuidar do meu filho. Uma segunda feira daquelas que não se tem nada pra fazer, atrás do alojamento da minha companhia, depois dos exercícios diários; começou a chover e o nosso sargentiante ordenou que nos abrigássemos em baixo de uma cobertura, mas como a chuva não parava, resolvemos jogar uma suequinha, jogo de baralho que é proibido nos quartéis. De repente somos surpreendidos por um Oficial, que nos pergunta de quem é o baralho? Como ninguém se acusava, eu me levantei e assumi como sendo o dono. Essa burrice me levou a rastejar até sumir na lama. Quando me levantei, todos diziam: Parece um porco! Assim, nasceu esse apelido que carrego até hoje: PORQUINHO. Depois de passado a pronto, fomos designados para servir no centro do Rio de Janeiro, em uma organização com o apelido de PIPAR, que significa Pagadoria de Inativos e Pensionistas da aeronáutica, e fica situado à Av. Churchill, 157 - Castelo - Rio de Janeiro. Chegando lá, fui encaminhado a Seção Administrativa, de lá, fui designado para a Divisão Legal (DL), nessa seção eu passei boa parte da minha vida; nessa seção fui trabalhar com a Rosinha; DNA. Gisele e Regina Célia Rosa. Nós tínhamos o compromisso de receber as viúvas dos militares, para que elas pudessem requerer suas pensões e auxlio-funeral. Minha função era datilografar os requerimentos, solicitando à habilitação a pensão militar. Deveria, também, solicitar que a tesouraria da PIPAR, pagasse o auxílio-Funeral, relativo àqueles que haviam nos deixado. Além dos contatos pessoais, com as pensionistas, recebíamos mensagem rádio, nos informando desses falecimentos, através do COMAR 3. Certa vez, quando cheguei à PIPAR, para trabalhar, recebi o seguinte recado:- CB Fernandes, tem um militar na sua sala te aguardando! - E eu perguntei: - Quem é?Perguntei ao soldado de trouxe o recado. Ele me respondeu que ñ sabia e não havia perguntado. Dirigi-me para a minha sala e, me deparei com aquele senhor simpático e sorridente, que me fez a seguinte pergunta: - Você é o CB Fernandes? Respondi que sim e, ele se identificou como sendo Major e que seu salário havia sido bloqueado, por que eu o havia excluído de saque por falecimento. Fiquei intrigado com suas palavras e fui logo identificar o problema. Constatei, verificando os rádios e certidões de óbitos, que havia recebido que era tudo verdade. Eu havia matado o Major, e por essa razão, seu salário não fora depositado. Foi o seguinte: A sogra do Major havia falecido, ele comunicou seu falecimento à santa casa de misericórdia do Rio de Janeiro, que por sua vez, fez a comunicação a PIPAR, através de rádio, que dizia o seguinte: ...solicito que seja sacado do Major fulano tal, a importância de R$ 1.200,00 (Hum Mil e Duzentos Cruzados), relativo a seu falecimento, ocorrido em 11\11\1989; como pode ver, o rádio não faz menção à sua sogra, o que me levou à acreditar que quem morreu foi o Major, me levando a publicar em boletim da PIPAR, seu falecimento. Outro fato interessante ocorrido no período em que trabalhei na Divisão Legal dúvaa PIPAR foi o seguinte: Recebi a visita de uma viúva, que gostaria de comunicar o falecimento do seu marido e requerer a sua pensão militar e o auxílio-funeral, durante as apresentações dos documentos de praxe, para cumprir todas as exigências necessárias, fui indagado pela Sra.viúva com as seguintes perguntas: - CB fernandes! De quanto é minha pensão? Minha pensão será integral? Respondi, mas não como deveria; juro que se acontecesse de novo eu mediria mais minhas palavras. Sem pensar nas conseqüências, disse, e sem nenhuma necessidade para a pensionista, que se seu marido tivesse dado uma saidinha para o café, sua pensão então seria dividida. Dito isto, me despedi dela e preparei para um próximo caso. Um dia qualquer depois, pra minha desagradável surpresa, fui chamado na sala do diretor da PIPAR. Assim que entrei na sala, ele me apontou uma senhora acompanhada de um cavalheiro, que cumprimentei prontamente. O diretor foi direto ao assunto: Fernandes, essa senhora está, com o seu advogado, para saber de você, se você conhecia o marido dela, porque quando ela veio até a PIPAR, para requerer a sua pensão, você insinuou que se o marido dela tivesse dado uma saidinha pra tomar
café com alguém, poderia ser que a sua pensão fosse dividida;isso é verdade, CB? No que respondi que sim, o Diretor me passou um dos maiores esbregas que alguém pode receber; tudo por que coincidentemente, a pensão da Sra. veio metade, pois seu marido tinha uma filha fora do casamento. E, acreditem, eu nem conhecia o falecido. Só brinquei com a coisa errada, no momento errado e com a pessoa errada. Eu havia prometido para a Aninha, que assim que eu desse baixa da Aeronáutica, a gente se casaria. Mas, as coisas não saíram como pensávamos,fui gostando da Aeronáutica, do dinheiro, do meio expediente, das farras no centro da cidade; lugar que não largo por nada nesse mundo. Outro fato que marcou minha permanência na aeronáutica, foi à descoberta do meu pai, JUAREZ RODRIGUES VERGAS. Eu, como a grande maioria dos brasileiros, nascemos sem pai e, poucos de nós, mas, muitos poucos mesmo, acabam encontrando-os. O meu só fui conhecer aos dezoito anos de idade. Tudo por obra e graça da minha mãe genética, NILDA FERNANDES DE LIMA. Ela nunca me disse o nome do meu pai, na juventude. Tive que chegar a idade adulta, para merecer um pouquinho de sua atenção. Assim que cheguei à PIPAR, conheci muita gente boa disposta à ajudar; uma delas me perguntou por que que eu não procurava meu pai. Eu sempre dizia que não me importava, pois minha mãe nunca mais tivera notícias suas, por essa razão eu não me interessava nunca. Mas um dia, quando fui pesquisar alguns nomes no nosso cadastro, descobrir o seguinte: Se a Aeronáutica tem seus arquivos, Marinha e o Exército têm os seus; então resolvi investigar se meu pai ainda era vivo, pois tudo que consegui arrancar da minha mãe era que ele era militar da Marinha. No dia seguinte me dirigi até ao prédio da PIPM, na Praça Mauá, lá, me identifiquei como militar da Aeronáutica e todos ficaram felizes em me ajudar a localizar meu pai. Fui atendido por um Cabo velho, tratamento carioso, para o militar que passa a sua vida toda em uma mesma graduação. Ele me conseguiu o endereço completo do velho e com ele na mão, escrevi a carta mais longa da minha vida, pena não ter escrito com cópias, né! Três semanas depois de eu ter escrito aquela carta, estava em minha sala trabalhando, quando me chamaram na portaria, para atender dois marinheiros que gostaria muito de falar comigo. Quando me aproximei dos dois, o mais baixinho, com um sorriso largo no rosto, virou-se para o outro, mais alto um pouquinho, e disse: É ele. E, eu perguntei: É ele quem? O meu irmão! Seu irmão! Sim. Meu nome é JURACI GONÇALVES VERGAS, e esse aqui, é nosso cunhado, seu nome é WASHINGTON. Apresentamos-nos, falamos sobre nosso pai e marcamos uma visita a salvador naquele mesmo ano. Eu nunca tinha deixado o Rio de Janeiro, e tampouco nessas circunstâncias, mas era fevereiro, o mês que eu mais gosto até hoje. Comprei as passagens de ônibus, por que nunca havia entrado em um avião, antes. A viagem foi longa, quase trinta horas. Durante toda viagem, eu ficava imaginando como seria meu pai, feio, bonito, gordo, magro e se, ele, me receberia bem ou com cerimônia. Foi chegando à hora. O ônibus acabara de entrar da cidade de Salvador, e meu coração começou acelerar. Finalmente estava saltando na rodoviária de salvador; eu havia levado somente uma sacola com algumas mudas de roupas. Quando coloquei pela primeira vez meus pés no chão de Salvador, dei de cara com a minha cópia; era um senhor gordinho, fofinho, com uma carinha simpática, igualzinha a minha; Quase desmaiei. Meu pai usava uma camiseta de guerra, àquela que se usa pra o que der e vier, pois é essa era a camiseta do meu pai; na cor amarela, com o símbolo da cerveja Skol, estampada bem no peito. depois eu continuo......